Diferentemente de outros lugares culturalmente importantes do Brasil, em São João del-Rei, o dia 2 de fevereiro não é Dia de Yemanjá. Na cidade onde os sinos falam, o culto é feito para Nossa Senhora das Candeias, em outros lugares conhecida como da Candelária e também da Apresentação.
Tudo começa muito cedo, quando o dia ainda está clareando, na igreja do Rosário, com a bênção das velas que os fiéis levam de casa. Em seguida, quando o sol começa a nascer no horizonte, sai com ele uma procissão pelo curto trajeto, que vai da igreja-sede da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito dos Homens Negros até a Matriz do Pilar.
Tal como os raios do sol que despontam, cada participante leva sua vela acesa, no ritmo do sacerdote que repete, durante todo o percurso, o Cântico de Simeão. Nada mais do que a expressão latina Nunc Dimittis - que teriam sido as palavras ditas pelo Velho Simeão quando recebeu nos braços, no Templo de Jerusalém, o Menino Jesus, apresentado por seus pais. Esta procissão não possui andor com imagem, nem estandarte, nem banda, nem toque de sinos. Estes dois últimos, possivelmente devido ao horário.
Aliás, o horário em que acontece - quando as ruas ainda estão vazias, em quase absoluto silêncio e sem nenhum movimento de carros ou pessoas - faz com que a procissão das luzes pareça ocorrer em outro tempo, bastante antigo e muito distante. Contribui para esta impressão a predominância das mulheres, compenetradas e seguindo em fila, assim como a ausência de pessoas nas calçadas, simplesmente "olhando" a procissão passar.
Desde que é abençoada no início da celebração, a vela ganha um significado especial e, a partir de então, passa a ser guardada com cuidado. Só é acesa pelos fiéis em situações de aflição devido ao mau tempo, como por exemplo durante as fortes tempestades, que cortam o céu com seus raios e estouram graves trovões. Normalmente, nestes momentos, além da vela, os são-joanenses que estão na curva da idade queimam também os ramos bentos no Domingo de Ramos, para afastar medos e perigos e abrandar as fúrias da natureza.
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Foto e informações: Thiago Neves Abrantes (Facebook)
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