Sua vida foi repetir, com maestria, o ato da criação. Cristos, virgens, anjos, apóstolos, soldados romanos, gente do povo, cordeiros, corações flamejantes, rocalhas e volutas graciosamente brotavam da pedra e da madeira pelo movimento até do que restaram de suas mãos. Aleijadinho reproduziu o céu entre os riachos, os vales, pepitas de ouro e as montanhas de Minas Gerais.
São João del-Rei recebeu a graça divina de ter em seu centro histórico dois dos seis mais belos templos barrocos criados pelo grande mestre - a igreja do Carmo, com as quinas angulosas de suas torres que misteriosamente ao alto se tornam sinuosas até diluir-se no infinito, e a igreja de São Francisco, absolutamente toda em curvas. As fachadas destas igrejas, com suas portadas, medalhões e janelas emolduradas, todas primorosamente esculpidas em pedra sabão, em seu barroco estilo não encontram similar em Minas Gerais, quiçá nem no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.
Na igreja de São Francisco, inclusive, Aleijadinho deixou sua marca em uma pequena imagem que se encontra em nicho de um altar lateral e no monumental retábulo da capela-mor, sublime, delicada e colorida expressão de alegre rococó, também ímpar na arte brasileira.
Por tudo isto, neste mês de novembro São João del-Rei está prestando por meio da arte, com uma vasta programação cultural, seu tributo de reconhecimento e gratidão a Aleijadinho. Tributo que certamente lhe está sendo entregue por Santa Cecília, padroeira dos músicos, que são muitos na cidade. Nas cordas douradas de sua harpa, afinada em clave de sol, mas também de lua e de estrelas, Santa Cecília dedilha notas musicais amorosas - canção de ninar que embala o sono profundo e do grande artista.
Descanse em paz, Aleijadinho. Dorme no colo de Deus, cercado dos anjos, arcanjos, querubins e serafins que você tanto espalhou por estas Minas de lembrança e eternidade.
Comentários
Postar um comentário