Três de maio é o Dia da Santa Cruz - uma data comemorativa outrora muito marcante no calendário religioso de São João del-Rei. Entretanto, nas últimas décadas, uma bela tradição relativa a este dia praticamente desapareceu da área urbana são-joanense, principalmente no centro histórico: a colocação de cruzes enfeitadas na porta das casas.
Geralmente adornadas com flores naturais (crisântemos pequenos, em São João del-Rei antigamente conhecidos como "monsenhor") ou de papel crepom, ou simplesmente cobertas com papel de seda repicado, eram adereços coloridos que - em contraste com as portas azuis, vermelhas, verdes, cinzas, amarelas ou marrons - davam viva alegria à paisagem colonial de nossa cidade.
As cruzes enfeitadas ficavam nas fachadas até que se desbotassem pela exposição ao sol, à chuva e ao sereno do inverno, que em São João del-Rei já começa forte nesta época do ano. Funcionavam como a guirlanda natalina, porém pendurada na porta no terceiro dia de maio, como declaração de que naquela casa morava um cristão.
Folheando a Bíblia, é como se a cruz enfeitada lembrasse a passagem do Velho Testamento em que o sangue do cordeiro, pintado nos umbrais, sinalizava para o Anjo Externinador que não entrasse naquela casa na noite da ira do Senhor . Que passasse adiante na sua missão de sacrificar primogênitos.
Desacreditados do Anjo Exterminador, os são-joanenses estão abrindo mão da cruz enfeitada, sinal devoto de outros tempos. E não percebem que agora o sacrifícado não é mais o filho primogênito, mas sim a alegria, a graça, a cor e o encantamento que eram o enfeitar a própria cruz e ostentá-la, como declaração de fé e talismã, na principal porta de sua casa.
Marca no calendário, a cruz de maio era um ponteiro do tempo...
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