Pular para o conteúdo principal

Velhos carnavais. São João del-Rei, 1929: "um enorme, tonto, doido e alegre inferno"


A tradição do Carnaval em São João del-Rei começou nas últimas décadas do século XIX, semeada pelos entrudos, que mais tarde possivelmente deram origem aos blocos de sujos e zé-pereiras.

Na virada do século XX, mais precisamente no domingo de Carnaval 17 de fevereiro de 1901, aconteceu na cidade um baile a fantasia, promovido pela notável Sociedade Filarmônica Sanjoanense. A música, em sua maioria valsas, esteve a cargo da Orquestra Ribeiro Bastos e a chegada dos foliões, fantasiados ricamente e a caráter já era uma atração para o povo, que esperava em frente à sede da Filarmônica aquele desfile incomum.

Mas a década de 1920 despediu-se de São João del-Rei com um Carnaval grandioso. Em 1929, conforme divulgado no tablóide O Carnaval, editado pelo comércio local com tiragem de10 mil exemplares (a população são-joanense ficava na casa dos 20 mil habitantes), a farra de Momo foi descrita assim:

"... As duas magníficas avenidas, separadas pelo rio, formam como uma enorme praça aberta, onde se agita a onda borborinhante da folia; onde desfilam os carros do corso, numa corrente interminável de automóveis algazarrentos; onde se exibem e passam os cortejos luminosos, deslumbrantes; onde, emfim, a iluminação profusa, o businar de automóveis, o desfile de préstitos sumptuosos, com carros de confecção esmerada e vistosa, o vozerio das canções carnavalescas, as execuções animadas de várias bandas de música, os sons vermelhos do corpo de clarins do Club X, as batalhas, as luctas, as porfias de confetti, lança-perfumes, serpentinas, fazem da praça um enorme, tonto, alegre e doido inferno em que bem vale a pena a gente esquecer, apagar as máguas de todo um anno passado na vida apertada ou a apertar, cono nos vae esta, cada dia mais.

Quando o corso termina, quando os préstitos se recolhem, é então nas sedes das sociedades carnavalescas e nas sedes do Athletic Club e do Minas F.C. que intensifica o prazer, em animados bailes, durante os três dias. Sendo assim, o Carnaval em São João d'El-Rey, é natural que à cidade acorram, em grande número, os forasteiros, as pessoas de fora, a ver o que seja uma boa folia carnavalesca..."


Como se vê, desde aquela época o Carnaval de São João del-Rei é atração turística e atrai para a cidade milhares de foliões e visitantes. Mas isto é história para outro dia...
.O.....o.......o....o......o...O..o......o..o....o...O.......O.o..
Fonte: DANGELO, Jota. Subsídios para a história do carnaval de São João del-Rei, de 1950 a 2000. Editora Atheneu. SP, RJ, BH, 2003.

Foto: Corso moderno no Bloco Carnaval de Antigamente (Mauro Nuno)


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j