Pular para o conteúdo principal

Festa das Mercês - Doce, sereno e sublime encanto de São João del-Rei

Há quase 300 anos o povo de São João del-Rei participa - com fé, devoção e encantamento - da sublime novena barroca de Nossa Senhora das Mercês. É um ofício encantador, numa capela delicadamente dourada, entre flores, incensos, música suave que vem de violas, violinos, violoncelos, flautas, clarinetas e de belas vozes que se harmonizam em rendilhados de notas musicais que formam volutas sonoras inigualáveis.

O sino sozinho, na torre altaneira, soberana e solitária, toca alegre. Padre Geraldo canta vigoroso responsórios seculares, que orquestra e fieis, em coro único, respondem convictos. Fieis em sua maioria negros de carapinha branca, entre jovens e crianças, compenetrados vivenciam por uma hora e meia, um amoroso abraço imaginário com Nossa Senhora das Mercês. Com o olhar trocam palavras, fazem pedidos, promessas, agradecimentos. A tudo a Virgem acolhe de braços abertos e face levemente inclinada na direção da mão direita, que estende para o povo são-joanense com um buquê de cravos brancos, jasmins, flores de laranjeira, graças, bênçãos, alegrias, vitórias e favores.

Quem a vê, serena em seu trono, não imagina que, outrora, mãe zelosa, desceu sua colina para despedir-se dos filhos soldados que embarcaram para a Guerra da Itália. Protegeu-os no combate nas montanhas nevadas e, tempos depois, novamente foi às ruas para buscá-los - sempre de braços abertos, com o buquê de felicidades e sorrisos.

Aqueles que não resgatou vivos do inimigo nazista, Nossa Senhora das Mercês um a um conduziu-os ao céu, onde até hoje, como meninos, eles brincam com as estrelas e se encantam com os fogos de artifício que brilham no anoitecer de todo dia 24 de setembro.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j