Pular para o conteúdo principal

São João del-Rei, 26 / abril / 1810. No Rio das Mortes Nhá Chica foi batizada e recebeu os santos óleos


Há exatos 203 anos, em São João del-Rei, mais precisamente na capela do distrito de Santo Antonio do Rio das Mortes Pequeno, o padre Joaquim Jozé Alves, quando batizou uma menina negra, filha da escrava Izabel Maria, e pôs sobre ela os santos óleos e o nome de Francisca, não sabia que protagonizava ali um momento histórico, que ficaria para sempre gravado na memória religiosa da "terra onde os sinos falam" e (por que não?) do mundo inteiro: o batismo da Serva de Deus Nhá Chica, que será beatificada pelo Papa Francisco no próximo dia 4 de maio.

O ato foi documentado em Certidão de Batismo lavrada no Livro 1808/18, arquivada na Matriz do Pilar de São João del-Rei, que no verso da página 300 registra o seguinte:

          "Aos vinte e seis dias de abril de mil e oitocentos e dez na Capella
            de Santo Antonio do Rio das Mortes Pequeno, Filial desta Matris
            de São João del-Rei, de licença o Reverendo Joaquim Jozé Alves
            baptizou e pôs os Sanctos oleos a Francisca filha natural de Izabel
            Maria, e forão Padrinhos Angelo Alves e Francisca Maria Rodrigues
            todos daquella applicação. O Coadjutor Manuel Antonio de Castro"

Não se sabe bem se foi o acaso ou a graça divina que trouxe de volta o precioso livro para os arquivos da Matriz do Pilar, de onde há tempos havia desaparecido, mas a verdade é que este fato envolve profundo  mistério. Consta que, certo dia, Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, então Pároco da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, foi procurado por um desconhecido que trazia às mãos um objeto pesado e retangular, embrulhado em papel ordinário. Disse-lhe o homem que eram papeis muito importantes para a igreja e os entregaria ao sacerdote em troco de algumas moedas.

Sempre zeloso para com a Igreja e para com o patrimônio e memória da Matriz do Pilar e de São João del-Rei, Padre Paiva aceitou o negócio. Quando mais tarde abriu o pacote, tomou ciência do seu precioso conteúdo e, mais ainda, que nele estava a Certidão de Batismo daquela para a qual milhares de olhos e corações estão voltados com fé e devoção, felizes pelo caminho que guiada por Deus ela percorre, assim na terra como no céu, rumo ao encontro de anjos e outros santos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j