A palavra bandalheira, no senso comum, todo mundo sabe o que é: zona, cachorrada, molecagem, safadeza, canalhice, malandragem, roubalheira, mamata, senvergonhice, velhacaria. Isto, é a bandalheira com b minúsculo.
Mas não em São João del-Rei, no sábado que antecede o Carnaval. Lá, Bandalheira é outra coisa. É um bloco, ou uma banda, ou os dois ao mesmo tempo, que arrasta muita gente por ruas de paisagem colonial muito bonita, no centro histórico da cidade.
Na Bandalheira de São João del-Rei, não tem falcatrua, corrupção, trapaça, nem exploração. Só alegria sadia. Cordialidades, gentilezas, civilidades. Como o bloco sai à luz do dia, abrindo as portas para o Carnaval propriamente dito, tudo acontece às claras, o que cria uma ambiência muito feliz e tranquila, propícia para todos - do pequeno infante ao são-joanense mais curtido pelo tempo.
Desde seu primeiro desfile, o abre-alas da Bandalheira é um jipe, sobre o qual costuma sair um grande estandarte branco, com estampa do tema ou pessoa homenageada. O estandarte original da Bandalheira tem a representação de quatro pés - dois femininos dentro de dois masculinos - em sentidos opostos, na posição de quem está deitado. Não precisa dizer mais nada, todo mundo entende a mensagem, não é mesmo?
Na sua informalidade e elegante irreverência, a Bandalheira também tem comissão de frente, que sai junto ao grande estandarte, dentro, à frente e ao lado do jipe. São alguns médicos muito conhecidos e queridos do povo são-joanense. Certamente não é por acaso que eles vão ali, pois, amigos dos fundadores do bloco (alguns deles inclusive foram fundadores), pode-se dizer que eles fizeram o parto, foram pediatras e agora cuidam da saúde, do pulmão e do coração, da Bandalheira. Do fígado, Deus cuida...
Quem conhece profundamente a cultura são-joanense, e aproveita tudo para entender a barroquice local, vai perceber que, na primeira grande procissão da Quaresma - a Procissão do Encontro, que em São João del-Rei se realiza no Domingo de Passos, o quarto domingo após o Carnaval - quem segura os cordões retorcidos que pendem do alto estandarte roxo, com a inscrição S.P.Q.R. bordada a ouro, são também médicos. Desde o século XVIII, tal estandarte vem à frente do cortejo, puxando as irmandades e confrarias na procissão do Senhor dos Passos.
Em 2013, a Bandalheira já saiu, já sorriu, já divertiu, já alegrou. Com sua banda de sopro tocando velhas marchinhas, já se recolheu à memória de todos que foram no seu embalo. Então, ficamos aqui com a mesma frase que os são-joanenses, no fim de cada carnaval, já saudosos da festa que acabou, se despedem: Bandalheira, "Agora, só no ano que vem!"
Enquanto 2014 não chega, curta abaixo alguns flashes do desfile da Bandalheira 2013.
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Veja, neste link, a saída da Bandalheira de São João del-Rei no carnaval de 2012.Seu enredo foi O mundo pode até acabar mas a Bandalheira não pode parar! http://www.oirmusicas.com/mp3/bloco-do-passo-samba.html
Foto da abertura: guiadelrei.com.br
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