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A Independência de/em São João del-Rei


Muito antes que o galo cantasse três vezes e Dom Pedro I gritasse Independência ou Morte! às margens do Ipiranga, muita água já havia corrido no Córrego do Lenheiro, sob as pontes - de três arcos e pedra - da Cadeia e do Rosário de São João del-Rei.

Em 7 de setembro de 1747 a Câmara da Vila de São João destinou 40 oitavas de ouro para as festas comemorativas de Nossa Senhora do Pilar, padroeira do local. Há 26 anos já transferido para o outro lado do córrego, mais próxima da roxa, verde e dourada Serra do Lenheiro, o templo estava em fase de adorno e douramento.

Quase 30 anos depois, em 1770, um Edital da mesma Câmara convocou os proprietários de terras nas imediações do Porto Real, proximidades do Rio das Mortes, para que se apresentassem àquele órgão do poder ´colonial. Começavam-se os esforços para a construção da capela do Senhor de Matozinhos, que facilitaria aos "atuais moradores daquela paragem assistir ao preceito dominical sem o incômodo que padecem". O mesmo Edital condenava os avarentos, que requeriam terras públicas unicamente para mais tarde vendê-las, com muitos lucros, inclusive com a valorização que veio com a edificação do novo arraial que ali se pretende construir". Quatro anos mais tarde, em maio de 1774, já estava construída a Capela de Matozinhos, deliberadamente demolida em 1970.

No século XIX, há registros de que em 1889 a colônia italiana, já presente na sociedade são-joanense, promoveu comemorações para festejar o 67º aniversário da independência do Brasil. Tão sofisticado foi o desfile comemorativo que teve até carros alegóricos e a participação das quase tricentenárias orquestras Ribeiro Bastos e Lyra Sanjoanense.

Para comemorar o primeiro centenário da independência nacional, em 7 de setembro de 1922, a cidade de São João del-Rei desenvolveu intensa programação. A festa começou pela manhã, com missa celebrada na escadaria da igreja das Mercês, quando o povo, entusiasmado, cantou, em cívicos e altos brados, o Hino da Independência. Prosseguiu com uma pomposa procissão, saída da Matriz do Pilar, e continuou com um animado desfile do batalhão do 11º Regimento Militar.

Ao entardecer, discursos no Theatro Municipal, saudações à bandeira e plantio de árvores, uma das quais foi plantada pelo menino Tancredo Neves.

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Fonte: CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. Volume II, 2a edição, revista e ampliada. Imprensa Oficial de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1982.

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