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Mostrando postagens de setembro, 2012

As boas coisas de São João del-Rei: Boutique das Ervas, natureza do mundo em cenário barroco

 No mundo todo, dizem que os menores frascos guardam os melhores perfumes e os piores venenos. Em São João del-Rei não é diferente. Em uma movimentada encruzilhada do centro histórico, uma pequenina loja de artigos naturais tem temperos, chás, condimentos e especiarias do mundo inteiro: cravo da Índia, canela em grandes cascas e lascas, guaraná em pó, ginseng, anis estrelado, açafrão, curry, colorau, pimentas, hibisco, hortelã, erva doce, tâmara, damasco, castanha,  banana seca, mel da terra, pimenta do reino, sal grosso, sal marinho, tomate seco, salsa desidratada, sementes alimentícias e grãos secos os mais variados. É a Boutique das Ervas. Quem entra lá pela primeira vez, tem a impressão de estar em um mercadinho persa. Em um entreposto do Oriente que tem alimentos secos, condimentos  e chás de todos os continentes. Um microarmazém da nova Companhia das Índias,  contemporânea entre o velho e o novo da trissecular cidade de El-Rei. Na espontânea ordem (ou apertada desordem) 

Festa das Mercês: há cem anos, a obrigação brigou com a devoção em São João del-Rei

Mais uma vez São João del-Rei está em festa. Apesar de ser uma segunda-feira útil, a cidade hoje foi acordada por uma alvorada festiva, tocada pela banda de música municipal, e já às 6 horas da manhã o sino da igreja que fica no ponto mais alto do centro histórico são-joanense tocava entusiasmado para anunciar que hoje é dia de Nossa Senhora das Mercês. Daí então, muitas vezes de hora em hora, naquele alto se celebrou e concelebrou muitas missas, algumas comuns outras solenes, algumas com música barroca executada pela Orquestra Lira Sanjoanense (vídeo abaixo), outras com a participação do Coral dos Coroinhas de Dom Bosco e teve aquelas em que só se ouviu a voz do padre, as orações dos fieis e a voz em melodia do povo do lugar. A todas, Nossa Senhora das Mercês agradeceu, com as flores de sua grinalda, alvas e perfumadas de jasmin e laranjeira, e com os cravos brancoimaculados do farto e generoso buquê de graças que ela carrega na mão direita. Logo depois que o sol caiu atrás da

Livraria Libreto: a nova casa das letras em São João del-Rei

Na data oficial de sua chegada, a primavera brindará São João del-Rei com um novo espaço de cultura, lazer e saber. Mais precisamente com uma casa das letras, das palavras, ilustrações e fotografias. É a nova livraria da cidade - Livraria Libreto - instalada em um espaço privilegiado e pitoresco do centro histórico: atrás da igreja do Rosário. A inauguração será na tarde do sábado, 22, às 16 horas, e promete ser um animado e espontâneo evento cultural. Realizada sob o céu aberto de São João del-Rei, terá um palco para apresentações artísticas, poéticas, literárias e performáticas da plateia. Se você puder, não perca! Se não der para ir à inaguração, que tal achar logo um tempinho em sua agenda para conhecer a nova morada do saber em São João del-Rei?

Primavera de música e cultura no Museu Regional de São João del-Rei

Em São João del-Rei, a primavera vai chegar mais cedo. Além de flores, vai trazer também muita música, para valorizar ainda mais a rica sonoridade e a musicalidade da 'cidade onde os sinos falam'. Isto porque o Museu Regional / IBRAM inaugura, no próximo dia 20, às 20h, a exposição A Música, o Museu e a Cidade . Antes, às 19h, recital no setecentista órgão de tubos, com o organista ítalo-brasileiro Marco Brescia. Estes eventos integram a progamação nacional do Ministério da Cultura,  Primavera nos Museus . A exposição se propõe a mostrar, por meio de partituras, instrumentos, fotografias, documentos e histórias de vida dos grandes músicos são-joanenses, das bicentenárias orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos e da centenária Banda de Música Theodoro de Faria, a riqueza artística daquela que é conhecida como  'Terra da Música', São João del-Rei. Estes eventos são gratuitos e acontecerão na sede do Museu Regional de São João del-Rei, situada em belo

Felit 2012. Em São João del-Rei, a literatura faz parte da vida. E também da morte...

Em mais um setembro São João del-Rei realizará, este ano nos dias 27, 28 e 29, o seu Festival Literário -Felit 2012 . Letras, livros, versos, poemas, escrituras, sílabas, rimas, rítmos, estrofes, palavras. Palavras? As palavras só dizem aquilo que já se sabe . Algo mais ou menos assim, me lembro, escreveu em um poema Adélia Prado. Adélia Prado? Isto mesmo. A grande escritora brasileira, que nasceu em Divinópolis e foi universalizada pela poesia, será a homenageada da Felit 2012, que terá a graça de sua presença. Palestras, encenações, cortejos, café literário - tudo versará sobre a obra de Adélia, inclusive gastronomia. E por falar em gastronomia, a cozinha de Minas, como tema central ou como elemento de um cenário, está presente em vários poemas do livro Poesia Reunida, lançado em 1991 pela Editora Siciliano. Com sabor de lembrança, de infância e do nunca mais, quase pode ser comida em muitos versos. Este livro, inclusive, foi um dos principais orientadores do argumento cozin

Setembro floresce fé, festa, fogos e flores em São João del-Rei

O calendário das festas religiosas de São João del-Rei seguramente é o mais vasto, diversificado e intenso do Brasil. Começou a ser construído em 1703, quando no vale da Serra do Lenheiro chegaram os primeiros bandeirantes e forasteiros, trazendo como padroeira uma imagem primitiva de Nossa Senhora do Pilar. Se sofisticou e singularizou ao longo dos séculos XVIII e XIX, perpetuando-se nos séculos XX e XXI. Neste calendário, setembro é um mês que se destaca. Somente em novenas e tríduos, somam-se 30 dias, e a eles se somam 5 tradicionais procissões: Senhor dos Montes, Bom Jesus de Matosinhos, Nossa Senhora das Mercês, São Miguel Arcanjo e Anjos Custódios. A de Bom Jesus de Matosinhos (foto) , por exemplo, acontece no dia 14, quando também se celebra a Exaltação da Santa Cruz. Sem dúvida, é realizada desde a segunda metade dos anos setecentos e tem o status de Jubileu. Outra peculiaridade é que acontece em um bairro comercialmente muito movimentado e distante do centro histórico. Dur

Nhá Chica. Refulgente estrela do Rio das Mortes. Doce candura de São João del-Rei

Não é todo verdade o dito popular de que o brasileiro deixa tudo para a última hora . Pelo menos em Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, ou simplesmente Rio das Mortes - um dos cinco distritos de São João del-Rei. Lá, a notar pela movimentação que já começa, tudo o que é importante recebe atenção e planejamento; é preparado com bastante antecedência, tal qual uma festa de casamento ou um batizado. O grande orgulho do povo simples do Rio das Mortes não são os templos barrocos, as pontes de pedra, as orquestras quase tricentenárias nem a magnífica Semana Santa de São João del-Rei, "metrópole" daquela "colônia". O que faz o coração daquela gente bater mais forte e seus olhos brilharem mais luminosamente é a lembrança de que ali nasceu a primeira santa brasileira, já beatificada para em breve começar o processo de canonização: Nhá Chica. Não só nasceu mas ali também foi batizada e viveu os dez primeiros anos de sua vida dedicada a Deus, a Nossa Senhora da Conc

Johann Sebastian Bach visita São João del-Rei

Se fosse possível, se poderia dizer que a música, cada vez mais, faz parte do dia a dia de São João del-Rei. Mas isto não é verdade. Tão estreitos e intensos são os laços que unem a música  e a terra são-joanense que é inconcebível pensar uma sem a outra, um só instante. No entanto, tal qual começo de namoro, no dia a dia música e cidade se encantam com brilho e frescor, sorriem, se enternecem e se embalam nos mais diferentes ritmos: sonatas, serenatas, sambas, suites, sinfonias, valsas, marchas, maxixes, chorinhos, batucadas, funks e rocks. Música clássica, rara, barroca, antiga, sacra, popular, folclórica, urbana, experimental, vanguarda - não importa. Sendo boa, de qualidade, é o que agrada. Imagine você: no suave anoitecer de uma quase primavera, atravessar um jardim de manacás roxebranco floridos para ouvir, quase ao pé do ouvido, duas gerações de Bach. O pai, seiscentista, e três de seus muitos filhos, setecentistas. Todos unidos em sonatas para cravo e flauta, na arte e

A Independência de/em São João del-Rei

Muito antes que o galo cantasse três vezes e Dom Pedro I gritasse Independência ou Morte! às margens do Ipiranga, muita água já havia corrido no Córrego do Lenheiro, sob as pontes - de três arcos e pedra - da Cadeia e do Rosário de São João del-Rei. Em 7 de setembro de 1747 a Câmara da Vila de São João destinou 40 oitavas de ouro para as festas comemorativas de Nossa Senhora do Pilar, padroeira do local. Há 26 anos já transferido para o outro lado do córrego, mais próxima da roxa, verde e dourada Serra do Lenheiro, o templo estava em fase de adorno e douramento. Quase 30 anos depois, em 1770, um Edital da mesma Câmara convocou os proprietários de terras nas imediações do Porto Real, proximidades do Rio das Mortes, para que se apresentassem àquele órgão do poder ´colonial. Começavam-se os esforços para a construção da capela do Senhor de Matozinhos, que facilitaria aos "atuais moradores daquela paragem assistir ao preceito dominical sem o incômodo que padecem". O mesmo Ed

Joia de 271 anos exposta ao mundo - ao sol e à lua - num largo luminoso de São João del-Rei

Há exatos 271 anos, neste mesmo dia, 6 de setembro, cometeu-se o primeiro gesto de se moldar uma das mais preciosas joias do barroco de São João del-Rei, de Minas Gerais e do Brasil. Por sua originalidade, inventividade e ineditismo, por que não uma das mais preciosas joias do barroco mundial? Estamos falando da igreja de São Francisco de Assis de São João del-Rei. A primeira iniciativa para sua edificação ocorreu em 6 de setembro de 1741, quando os devotos são-joanenses do santo franciscano dirigiram-se formalmente ao vigário da Vila de São João del-Rei, em busca de licença para a construção de uma capela dedicada àquele que por seus atos e ideiais mostrou-se irmão do sol e da lua, expressão da mais pura natureza. Tão sincero e devotado foi o pedido que a resposta, favorável, não tardou. No mês de outubro - tempo do aniversário do santo, o vigário autorizou a construção. Mas só a autorização não bastava; era preciso ter chão, já que templos não flutuam no ar. Por isso, o Capit

Fogueiras, pólvora, crenças, aromas e temperos espantaram a morte de São João del-Rei, em 1808

Em 1808, a Vila de São João del-Rei foi assolada por uma mortífera epidemia, que subtraiu muitas vidas, quase esgotou a capacidade dos cemitérios e desolou a população. Tão grave era a situação que, no dia 2 de setembro do ano em que D. João VI e a família real portuguesa chegaram ao Brasil, a Câmara, preocupada,  convocou "professores de cirurgia e de medicina" para identificarem a causa da tragédia e receitarem a conduta a ser tomada para afastar aquele terrível mal. Não tardou e poucos dias depois a Câmara publicou um Edital, determinando que a população adotasse várias medidas, umas quase bíblicas e outras bastante circenses - todas muito semelhantes a crendices e à conduta da medicina popular. Segundo os "professores de cirurgia e de medicina", deveriam os são-joanenses toda noite acender fogueiras e nelas queimar diversas ervas aromáticas: rosmaninho, manjericão do campo, arnica, pinheiros, coqueiros da serra, sassafrás, entre outras. Comumente se fala