Nos quintais dos casarões coloniais do Largo da Cruz, do Largo do Carmo, do Largo das Mercês, do Largo do Rosário, sob a imponência das torres das belas igrejas e ao som quartorário de seus sinos, caveiras brancas estão secando ao sol. Grandes túnicas pretas e roxas estão sendo costuradas. Letras tornam altos estandartes mensageiros de legendas funestas, advertências ameaçadoras. Ossos animais se descarnam ao tempo para mostrar, em certa noite carnavalesca suas cruentas articulações. Uns, murchos e amarrotados nos cantos, outros, jogados sobre caixões funerários, diabos vermelhos, despegados de seus tridentes, aguardam a hora de se inflamar e ganhar vida. A comprida e prateada foice da morte, caída no chão e previamente manchada de sangue, sem pressa sonha erguer-se no escuro e, em lentas curvas, ceifar pescoços.
Assim são os espaços onde, em São João del-Rei, se preparam as máscaras, roupas, carros e adereços do Bloco dos Caveiras -cinquentona instituição carnavalesca que, tempos atrás, já fez medo a muitos hoje valentões marmanjos.
Ainda atualmente o Bloco dos Caveiras é inquietante. Mesmo desprovido de sua dramaticidade e seriedade anterior, fruto dos tempos modernos mais voltado para o escracho e para o deboche, em meio à cerveja, à cachaça com mel, à batucada e ao som eletrônico que são agora o Reino de Momo, o Bloco dos Caveiras, com sua bandinhade metais e efeitos sonoros, ainda traz flashes de um universo misterioso e sombrio: o outro lado vida, o mundo obscuro da imaginação, o Hades, o Limbo, a des-Ordem, o Caos, o Avesso, o Antes, o que pode vir depois.
De novo incorporado à cultura são-joanense provavelmente nos idos de 1960, agora no domínio popular e com formato carnavalesco, o Bloco dos Caveiras de São João del-Rei tem sua origem em uma manifestação religiosa que acontecia na cidade ainda nos séculos XVIII e XIX. Naquele tempo, anualmente, também no mês de fevereiro, a Ordem Terceira de São Francisco promovia a Procissão das Cinzas que, baseando-se na descrição de alguns viajantes europeus, pode-se dizer que, guardadas as devidas proporções, tinha muitas afinidades com o cortejo funerário-carnavalesco contemporâneo.
Ao que tudo indica, era uma celebração importante e muito alegórica, oficial, cara, organizada com esmero e que requeria grande espaço físico para sua montagem e produção. Tanto que, segundo pesquisa de Sebastião de Oliveira Cintra, há 239 anos, no dia 1º de fevereiro, "A Ordem de S. Francisco resolve não realizar em 1773 a Procissão de Cinzas - 'porque se achava dando princípio ao ajuste para a feitura da nova igreja'."
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No Bloco dos Caveiras, até a Morte dança... - http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/03/no-bloco-dos-caveiras-ate-morte-danca.html
Assim são os espaços onde, em São João del-Rei, se preparam as máscaras, roupas, carros e adereços do Bloco dos Caveiras -cinquentona instituição carnavalesca que, tempos atrás, já fez medo a muitos hoje valentões marmanjos.
Ainda atualmente o Bloco dos Caveiras é inquietante. Mesmo desprovido de sua dramaticidade e seriedade anterior, fruto dos tempos modernos mais voltado para o escracho e para o deboche, em meio à cerveja, à cachaça com mel, à batucada e ao som eletrônico que são agora o Reino de Momo, o Bloco dos Caveiras, com sua bandinhade metais e efeitos sonoros, ainda traz flashes de um universo misterioso e sombrio: o outro lado vida, o mundo obscuro da imaginação, o Hades, o Limbo, a des-Ordem, o Caos, o Avesso, o Antes, o que pode vir depois.
De novo incorporado à cultura são-joanense provavelmente nos idos de 1960, agora no domínio popular e com formato carnavalesco, o Bloco dos Caveiras de São João del-Rei tem sua origem em uma manifestação religiosa que acontecia na cidade ainda nos séculos XVIII e XIX. Naquele tempo, anualmente, também no mês de fevereiro, a Ordem Terceira de São Francisco promovia a Procissão das Cinzas que, baseando-se na descrição de alguns viajantes europeus, pode-se dizer que, guardadas as devidas proporções, tinha muitas afinidades com o cortejo funerário-carnavalesco contemporâneo.
Ao que tudo indica, era uma celebração importante e muito alegórica, oficial, cara, organizada com esmero e que requeria grande espaço físico para sua montagem e produção. Tanto que, segundo pesquisa de Sebastião de Oliveira Cintra, há 239 anos, no dia 1º de fevereiro, "A Ordem de S. Francisco resolve não realizar em 1773 a Procissão de Cinzas - 'porque se achava dando princípio ao ajuste para a feitura da nova igreja'."
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No Bloco dos Caveiras, até a Morte dança... - http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/03/no-bloco-dos-caveiras-ate-morte-danca.html
tradição de sair desde criança amo o bloco cada vez mais
ResponderExcluiros antigos passando de pai pra filho e tals
cara é bom demais
Oi Anderson, concordo contigo que as gerações mais velhas passam o bastão para mais novas, que no caso são o caixão e o osso femur!KKK
ExcluirTambém já saí nos Caveiras, há muitos anos, muitos mesmo. Naquele tempo o bloco parecia mesmo coisa do outro mundo. Era cabuloso, puro terror. Causava pavor.
Hoje ele modernizou, pós-modernizou. Anda trocando o mistério pelo cotidiano, optando pela crítica explícita a figuras e fatos da cultura de massa. Tá se tornando um bloco deste mundo. Mas ainda é legal. Ainda causa algum medo, mas muito mais riso do que medo.
Parabéns e respeito à falange do bloco! Carpe Diem! Resquiecat in Pace! Pensando bem: "Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela...
Gde abraço.
Emilio.