Pular para o conteúdo principal

São João del-Rei, principalmente em dezembro, é cidade presépio


Apesar do aumento diário de automóveis e motocicletas nas ruas tortas e estreitas, que deixa o trânsito caótico principalmente na área comercial, e do crescimento de uma população mutante formada por estudantes universitários que chegam em busca de conhecimento e saber (o que dá à cidade um certo ar desenvolvimentista, cosmopolita) - São João del-Rei ainda possui cantos e recantos urbanos bucólicos e poéticos. Neles, parece até que o tempo parou, que a cidade é parte de um presépio. E é.

Aliás, de um não. Em dezembro de 2011, São João del-Rei é parte de quatro presépios, espalhados em espaços nobres do centro histórico. Comecemos pelo mais antigo, o da Muxinga. Criado e confeccionado em 1929 pelos quatro irmãos Teixeira, pela magia do Natal dá vida e urbanidade a pequenos personagens de madeira e lata que há mais de oito décadas se movimentam primitivamente, encantando a infância são-joanense. O Presépio da Muxinga fica exposto em um casarão antigo, nos fundos da Matriz do Pilar, na ladeira florida que dá nome ao presépio e acesso a dois velhos cemitérios.

No Largo do Rosário, que nesta época bem poderia chamar-se Largo do Natal, ou do Largo do Mistério do Menino Jesus, devido à programação religiosa e cultural que ali acontece, este ano se poderá conhecer o Presépio do Nono Rela. Pela primeira vez montado na cidade, no Museu de Arte Sacra, tem proposta interessante: sua construção é dinâmica e crescerá a cada ano, retratando diferentes fases e paisagens da história da humanidade, entre elas a própria São João del-Rei.

O Solar da Baronesa, no Largo do Carmo, ostentará diversos presépios, num concurso promovido pelo Centro Cultural da universidade federal são-joanense. Nas várias cenas natalinas, não é só Jesus que nasce - é a criatividade do povo de São João del-Rei que brota e resplandece.

Por fim, lembrando que tudo tem início e fim, também já virou tradição visitar, na escadaria da igreja das Mercês,  um presépio agropastoril, singelo e em tamanho natural. Seria uma cena comum do nascimento de Cristo não fosse aquele exatamente o local onde, na Semana Santa, se realiza uma das mais importantes e expressivas representações barrocas brasileiras da Paixão de Cristo: o Descendimento da Cruz, com o Canto da Verônica e saída da Procissão do Senhor Morto, tal qual acontecia no século XVIII.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j