Sedutora, São João del-Rei é cidade recatada.
Não expõe despudoradamente sua beleza de casas em ruas de discreto desalinho.
Igrejas brancas, redondas e soltas passeiam nos largos, que nem pombas.
Sua beleza, esconde-a, em cores suaves, furtivamente, atrás de esquinas,
por entre-becos. Beco da Romeira. Beco do Salto. Beco do Cotovelo. Beco da Escadinha.
Beco do Rosário. Beco da Matriz. Beco da Muxinga. Beco do Bispo. Beco do Teatro.
Beco Estreito. O soturno e tenebroso - hoje rebatizado - Beco do Capitão do Mato.
No alto de um morro, sobre uma beta de ouro, Beco Sujo.
Entre portas cerradas, janelas encostadas, o olhar entreaberto tudo vê.
O segredo é secreto; todo mundo sabe e ninguém conta, pra ninguém.
Na cidade suspensa, de tão leve desenho, as sacadas de ferro, sem peso,
flutuam no vento, arabescos de ar. Terra de sonho só quer iludir, encantar, enganar.
Pra depois, desmanchar o devaneio, lá isso tem: apito de trem, apito de fábrica,
ouço sino a dobrar, ecos de banda de música, foguetório a o céu estrelar.
Tudo de uma janela. Azul. Entreaberta, num entre-beco bucólico, com olhos semicerrados...
Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira
à-toa pintada, janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora,
monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta
(...)
Ô janela com tramela,
brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.
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PRADO, Adélia. Janela, in Poesia Reunida. Edições Siciliano. São Paulo: 1991.
Ilustração: Duas sacadas do Solar dos Viegas, em São João del-Rei. (Foto do autor)
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