Não o passado que passou, levado pelo tempo, e que agora é só lembrança. Quem reluz é o passado que eternizado ficou e brota a cada geração na alma do povo deste lugar. Se nossa paisagem urbana mostra antigas e recentes cicatrizes inapagáveis que exibem insensibilidades e ignorâncias, nossas tradições a cada dia se tornam mais fortes, mais ricas, mais singulares e envolventes. Basta assistir a uma das muitas procissões que acontecem o ano inteiro no centro histórico para dissipar qualquer dúvida sobre esta verdade.
Muito ainda há por fazer e por certo muito ainda sempre haverá. Afinal, todos sabemos, o fazer cultural é um movimento que nunca se completa. Verdadeira sina, é um ofício e uma luta que não tem fim. Só acaba quando a cultura, cristalizada, não tiver mais vida nem significado. Daí a paixão que sempre envolve e impulsiona esta causa muitas vezes ferir e maltratar o próprio objeto de amor. Paixão cega desagrega, "descongrega", esquarteja esforços. Tão nefasta é, faz lembrar a falsa mãe que em tempos bíblicos, na disputa de uma criança diante do Rei Salomão, não hesitou em aceitar que a inocente, viva, fosse cortada ao meio, para que ela recebesse a metade.
Enquanto se faz, desfaz ou não se faz, a cultura verdadeira faz-se por si mesma. Senhora de si, segue sábia, livre, autônoma e desimpedida, o seu caminho, resplandecendo majestade. Os sineiros são-joanenses, do alto das torres, dobrando e repicando seus sinos, que o digam...
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Veja, no link abaixo, o documentário Homens da torre, produzido e veiculado pelo Canal Futura. Nele, os sineiros falam, com sentimento e paixão, do ofício a que pertencem, ou com encantamento e saudade, do ofício a que pertenceram.
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