São Sebastião: contra a peste, a fome, a guerra, a amargura e a tristeza, protetor de São João del-Rei
De um lado, o sonhado Eldorado. O ouro a rolar entre o redondo cascalho, a misturar-se às raízes do capim silvestre, a escorrer pelos fios d'água, a se infiltrar em veios profundos no meio do quartzo rochoso. De outro, a cobiça, a violência, a ganância, o desvario, as febres, as crenças, as trapaças, os homicídios, delírios, traições, desorientações e alucinações. No meio de tudo, no ponto de exato equilíbrio entre os lados extremos - a falta, a falsidade, o feitiço, a fúria e os funestos sentimentos.
Foi neste universo que São Sebastião chegou a São João del-Rei, mal amanhecera o século XVIII para, com seu lume, seu poder e suas flechas, abrandar os ânimos, abrir os caminhos, clarear as noites, iluminar as trevas da alma e proteger são-joanenses e forasteiros contra a peste, a fome e a guerra. Sua primeira casa foi a capela de capim e taipa, erguida no Morro do Bonfim e incendiada na Guerra dos Emboabas - idos de 1709. Mas ele sobreviveu e hoje vive altivo em altar dourado na Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Pelos serviços prestados, desde aquela época São Sebastião é festejado com grande pompa em São João del-Rei, com novena barroca, toques de sino, folias e procissão, num culto que começa no dia 11 de janeiro e se estende até o dia 20 - sua grande data.
Santo guerreiro, quem dita o ritmo da procissão de São Sebastião é a banda do Batalhão, com uma marcha festiva, num ritmo que lembra toque marcial. A guarda da Folia de São Sebastião, vestida de vermelho - com seu estandarte enfeitado e instrumentos de percussão e cordas - vai em meio ao cortejo, em silêncio, à frente do andor que leva o santo flechado de prata, entre palmas cor de sangue. Num trajeto curto e rápido, entre becos e largos, sinos tocam, fogos estouram. Quem vai para a guerra ou volta do combate tem pressa, não pode perder tempo!
À entrada da procissão, no adro da matriz, mas do lado de fora da igreja, a folia toca, canta e dança. Lá dentro, o padre dá a bênção do Santíssimo Sacramento, enquanto a bicentenária orquestra Lira Sanjoanense toca e canta barroco Te Deum. Entre cantigas e responsórios, os sinos repicam floreados, tencões e terentenas. Envolta em nuvens de algodão doce, a noite cai ainda mais estrelada pelos fogos de artifício, cheirando a pipoca, a maçã do amor, a beijo quente e a amendoim torrado.
O povo de São João del-Rei, dentro e fora da igreja, em silêncio e pensamento suplica: São Sebastião, livrai-nos da peste, da fome e da guerra! - e, devoto, com gestos lentos e comedidos, faz o sinal da cruz. Por pior que esteja a vida, São Sebastião não lhes tem negado favores...
Veja, neste link, uma bela "Antíphona da Novena de São Sebastião", composta no século XIX pelo são-joanense Padre José Maria Xavier e aqui regida pelo maestro Marcelo Ramos, também são-joanense.
Aqui, uma apresentação da Folia de São Sebastião Embaixada Santa, do bairro Araçá - São João del-Rei.
Texto e foto (ex-voto a São Sebastião, distrito do Rio das Mortes): Antonio Emilio da Costa
( https://www.google.com.br/search?q=sao+sebasti%C3%A3o+sao+joao+del+rei&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=ft7WUtPuJYy4kQft84HADg&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=1600&bih=774#facrc=_&imgdii=_&imgrc=22Dqv0KC3hmsRM%253A%3B-HhwgjwWKgqf5M%3Bhttp%253A%252F%252F4.bp.blogspot.com%252F-JjO7JSupiGA%252FUV_3vWWQYUI%252FAAAAAAAAArw%252Fr-o85bZBL88%252Fs1600%252FEx-voto%252C%25252BRio%25252Bdas%25252BMortes%25252B(SJDR)%252C%25252B1905.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Ffolclorevertentes.blogspot.com%252F2013_04_01_archive.html%3B1135%3B772)
Lindo texto, Emilio. Que Sebastião seja por nós e del-Rei. Abraços.
ResponderExcluirMarcinho, o texto é só o registro de fatos na moldura de lembranças. Eles sim, os fatos - que ainda se repetem -, são mesmo sublimes. Salvemos a lembrança são-joanense de São Sebastião!
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