A última noite de novembro deste ano não desceu sobre São João del-Rei com seu manto azul escuro bordado de estrelas. Pelo contrário. No momento em que a lua nova deveria estar pousando sobre a Serra do Lenheiro, uma nuvem pesada prenunciava um acontecimento que, ao longo de 300 anos, os são-joanenses já viram muitas vezes: uma forte tempestade que com muito ruidosos e velozes flashes de prata fez brilhar telhados e paralelepípedos.
A água, violenta, transformou o pacato fio d'água que corta ao meio a cidade em um gigante líquido e furioso, a enfrentar, com vigor, as setecentistas pontes de pedra e a resistir ao extremo os limites que o guarnecem, em São João del-Rei conhecidos como cais. Longe do mar, ali o Córrego do Lenheiro, na intimidade dos mais antigos, é informalmente chamado de praia.
Contra as forças da natureza, o homem pode muito pouco, quase nada e esta realidade é universal. Está presente o tempo todo, em toda parte do mundo. Basta olhar as notícias que volta e meia chegam dos vários continentes, informando acidentes naturais.
Mas os são-joanenses, na firmeza de sua fé inabalável, aprenderam ao longo dos séculos a esperar serenos que se passe a tormenta, a lamentar no coração pelas perdas e sofrimento, a se fortalecer para novas tempestades e a dar seguimento à vida que flui - ora serena, ora turbulenta - como um córrego corre para o rio, que corre para o mar que, na sua imensidão, não corre para lugar nenhum. Ou melhor, que corre para si mesmo.
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Sobre as enchentes em São João del-Rei, leia abaixo a história de uma que, no final do século XVIII, motivou a construção do monumento que é um dos mais importantes ícones da cidade - a Ponte da Cadeia.
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